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Biografia

Mário Rubens Guimarães Montenegro

Mário Rubens Guimarães Montenegro nasceu em 1923. Graduou-se em 1946 pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Durante o curso médico foi carinhosamente apelidado de o “Monte”. Logo após sua formatura, ingressou como assistente no Departamento de Anatomia Patológica dessa instituição, à época chefiada pelo professor Ludgero da Cunha Motta.

Em 1954, Mário Montenegro foi agraciado com bolsa de estudos para aperfeiçoamento nos Estados Unidos da América (EUA) pela Kellogg’s Foundation.

Trabalhou por quase dois anos com o professor Damin, no Departamento de Patologia do Peter Bent Brigham Hospital da Harvard University. Sua grande competência, associada às qualidades pessoais, fez com que ele, em seis meses, deixasse de exercer naquela instituição atividades semelhantes às de um residente e fosse promovido a assistente do departamento. Ao lado das atividades rotineiras foi incluído dentro de um dos grupos mais importantes e pioneiros em nefropatologia que tiveram seu apogeu com Frank J. Dixon e Rodriguez, que trabalharam com modelo animal da doença do soro em coelhos, estudando e reproduzindo nefropatias experimentais, que contribuíram de maneira definitiva para a compreensão patogenética daquelas similares ocorridas no homem. Essa fascinante e importante linha de pesquisa, entretanto, não pôde ser continuada no Brasil, mas consignou o nome de Montenegro num dos trabalhos pioneiros sobre esse assunto.

Após seu regresso continuou a tarefa de formar discípulos. Entre muitos que trabalharam com ele e receberam sua influência têm-se: Luiz Celso Mattosinho França, então residente e aprendiz de neuropatologia do departamento; Adonis de Carvalho; Zilton Andrade e, posteriormente, Kiyoshi Iriya e Lor Cury.

Sua atividade científica prosseguia com repercussões no exterior. Pari passu começou a participar de estudos internacionais da arteriosclerose, os quais propiciaram a ele uma série de viagens e trabalhos extremamente importantes de cunho epidemiológico, muitos deles citados na literatura e fazendo parte de obras da época. A partir desses conhecimentos surgiu sua tese de livre-docência no Departamento de Anatomia Patológica da FMUSP, ocasião em que era professor Constantino Mignone. Nessa época, lutou contra a corrente em voga, pela introdução e valorização das biópsias por agulha, particularmente as de fígado, como um importante instrumento diagnóstico.

Posteriormente, desligou-se do departamento e transferiu-se para a nascente Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), mais tarde denominada de Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (Unesp). Mário Montenegro foi um dos principais responsáveis pela sua fundação, em 1962. Nessa instituição, além de investigador, demonstrou outra faceta importante de sua personalidade, a de administrador.

A grande maioria dos docentes, pioneiros do campus de Botucatu, foi atraída à novel faculdade por seu dinamismo e magnetismo. No início, um pequeno grupo de patologistas, incluindo Lor, Kunie, Celso, Cristina, Viciany e Marcello Franco começaram, sob sua condução, praticamente a partir do nada, a edificar aquele que viria a ser um departamento de patologia que exerceu grande influência na história da especialidade no Brasil.

De acordo com o seu discípulo Marcello Fabiano de Franco, “sob a visão e o estímulo do mestre, tivemos todas as oportunidades para crescermos nas três áreas de atuação acadêmica: docência, assistência e pesquisa. Assim foi possível construir um departamento moderno, contemporâneo, que aglutinou e formou numerosos professores, anatomopatologistas e pesquisadores, hoje espalhados em vários centros médicos país afora”.

“Além de sua inteligência, visão ampla da patologia como especialidade multidisciplinar, sua enorme capacidade de aglutinar, Montenegro foi chefe de escola e altamente generoso. Deu todas as chances de crescimento para cada um de nós, estimulou a que nos diferenciássemos, que estagiássemos no exterior, que fizéssemos a carreira universitária, sempre sem medo de que ficássemos melhores do que ele. Na verdade, tinha orgulho de nossas vitórias e conquistas”.

“Nunca lutou por cargos de direção, de poder, mantendo sempre atuação essencialmente acadêmica, universitária. Essa visão marcada pela ideia-mãe da FCMBB, que oferecia um curso básico único, multidisciplinar, a todos os estudantes, que depois então optavam por medicina, biologia ou veterinária, permitia grande integração entre as áreas básica e aplicada, tendo como paradigma o curso de agressão e defesa, onde a anatomia patológica era ministrada em conjunto com a microbiologia, parasitologia, epidemiologia e imunologia”.

“Com base nesse enfoque, a patologia de Botucatu exerceu papel fundamental na filosofia da instituição, no sentido da importância da integração anatomoclínica, com ênfase nos mecanismos patogênicos e na fisiopatologia”.

“Mário Montenegro dedicou-se a três projetos que foram revolucionários e inovadores para todos nós: 1) Projeto Nutes-Clattes, que nos propiciou treinamento e formação em pedagogia médica; 2) Decisão de escrevermos um livro de patologia geral conciso, que pudesse ser utilizado pelos professores e alunos dos vários cursos da área de saúde; 3) Criação do Grupo de Estudo de Paracoccidioidomicose do campus de Botucatu.

Montenegro foi pioneiro na utilização de modelos experimentais da micose para a integração dos achados morfológicos e da resposta imunológica do hospedeiro. Essa abordagem levou a formação do grupo multidisciplinar de paracoccidioidomicose de Botucatu, consolidando-o internacionalmente”.

Mário Montenegro fundou também o curso de pós-graduação em patologia, que trouxe renovado vigor à pesquisa na instituição, pois agregava um grupo de pesquisadores não-médicos, ressaltando assim a importância da pesquisa em patologia com profissionais de diferentes formações.

Aposentou-se como professor emérito relativamente cedo, a fim que sua vaga pudesse ser ocupada por uma jovem patologista do grupo. Porém, mesmo após a sua aposentadoria, continuou trabalhando normalmente, participando da rotina das reuniões de autópsia e como consultor em patologia do sistema nervoso central.

Foi presidente de natação da Associação Atlética Botucatuense e recebeu o título de cidadão botucatuense por sua contribuição ao desenvolvimento do campus da Unesp, em Botucatu.

Montenegro foi um esposo e pai muito dedicado e amado. Casou-se em primeiras núpcias com Maria Silvia Alves de Lima, falecida, tendo com o ela o filho Roberto Alves de Lima Montenegro. Casou-se em segunda núpcias com a dra. Edy de Lello Montenegro.

Desse conúbio nasceram Álvaro e Renata, e os netos Érica, Silvana, Roberto e Karina.

Mário Rubens Guimarães Montenegro faleceu no dia 11 de fevereiro de 2005, aos 82 anos, deixando uma grande lacuna na comunidade médica paulista, particularmente na cidade de Botucatu.

Seu corpo foi velado por amigos, docentes, alunos e servidores da instituição no Anfiteatro do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Unesp, sendo conduzido, no início da noite, ao Crematório de Vila Alpina, na capital paulista.

Em Botucatu sua atuação e influência foram tão amplas e marcantes que a congregação da faculdade de medicina decidiu dar o nome de “Casa de Montenegro” à instituição, de modo similar à FMUSP, que é a “Casa de Arnaldo”, em homenagem ao seu fundador, professor Arnaldo Vieira de Carvalho.

Seu nome é também honrado como patrono da cadeira nº 4 da augusta Academia de Medicina de São Paulo.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Primeiro ocupante e membro emérito da cadeira nº 4 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Mário Rubens Guimarães Montenegro, e presidente desse sodalício durante um mandato bienal entre 1999-2000.

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1901-1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse sodalício.