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Biografia

Olympio Viriato Portugal

Olympio Viriato Portugal, mais conhecido por Olympio Portugal, nasceu na Fazenda de Sant’Anna, região de Capivari, no município de Rio Claro, estado do Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1862. Era filho do tenente-coronel José Gonçalves de Souza Portugal e de Carolina Amália Pereira Portugal. F

ez seus estudos preparatórios e matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formando-se em 1887. Foi médico do Hospital de São João Batista de Niterói durante 7 anos. 

Em 1893, a convite do barão de Araras, transferiu sua residência para Araras, interior paulista, onde amealhou grande clientela. Muito estudioso e competente, sobressaiu-se atendendo a todos com atenção e delicadeza, qualidades marcantes de sua personalidade. Aí clinicou por vários anos e tornou-se muito benquisto pelos seus pacientes e amigos. Era reconhecido como um médico bom e exemplar. 

Atuou também como jornalista e fez um texto descritivo e estatístico – longo e minucioso – de apresentação geral da cidade de Araras em suas mais diversas áreas, o qual foi publicado no suplemento Revista da Semana. Colaborou também com artigos no jornal ararense Tribuna do Povo, quando pertencia a Virgílio Tavares. É muito provável que seja de sua autoria a letra do Hino das Árvores, cuja música é creditada ao maestro J. B. Julião. Em sua residência hospedou representantes da imprensa paulista e carioca. 

Olympio Portugal era médico assistente da família Lacerda e atendeu por muito tempo o barão de Araras. Teve também atuação política, sendo vereador da cidade de  Araras e vice-presidente do Sport Clube Progresso, fundado em maio de 1906. Nesse mesmo ano fundou o jornal Cidade de Araras, sujo slogan era “governar não é nomear”. Seu nome ficou ligado por muitos anos ao Largo da Misericórdia, que em sua homenagem também se chamou de Largo Dr. Portugal, posteriormente cedeu lugar à escola municipal de ensino infantil Hemínio Ometto. 

Entretanto, 19 de agosto de 1909, mudou-se para São Paulo, centro onde irradiaria sua grande cultura e intelectualidade. Nesta cidade exerceu vários cargos técnicos no Serviço Sanitário, inclusive na Assistência de Proteção à Primeira Infância e como chefe da Seção de Profilaxia da Tuberculose. Fez-se irmão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e mordomo do Hospital São Luiz Gonzaga, no bairro de Jaçanã, para onde iam os tuberculosos dessa benemérita instituição. Trabalhou também na Associação Maternidade de São Paulo onde havia um pavilhão que recebeu seu nome. Olympio Portugal tinha grande amizade com Júlio César Ferreira de Mesquita, jornalista, advogado e diretor do jornal O Estado de S. Paulo (1891-1927); e Plínio Barreto, também advogado, jornalista e articulista desse jornal. 

Olympio Portugal fez palestras no Rio de Janeiro com Machado de Assis na famosa Livraria Garnier, onde aconteciam reuniões literárias envolvendo celebridades como José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo, Joaquim Nabuco dentre outros. 

Tornou-se membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, silogeu que teve a honra de presidir num mandato anual entre 1926 e 1927. 

Dedicou-se com amor à sua profissão. Trabalhador operoso conquistou pela sua inteligência e vasta cultura posição destaque profissional e social na capital. 

Rubião Meira , seu biógrafo, assinalou que “Olympio Portugal foi um luminoso presidente. (…). Tinha qualidades de comando e sabia dirigir os amigos com afabilidade, os impressionando pela facilidade de falar, com correção, e pela inteligência que abordava os assuntos. (…). Desde logo, consagrado dentre as primeiras inteligências de São Paulo. Era amador das boas letras; escrevia com muita elegância e correção; estilo agradável, demonstrando grande cultura de seu espírito, não só de medicina, como de literatura. Bondoso, maneiroso, gozou de grande prestígio dentre os médicos”. 

Em São Paulo, Olympio Portugal não teve clínica tão grande quanto em Araras, mas desenvolveu outras de suas múltiplas qualidades. Fazia parte do que então se chamava de “grupo do Arnaldo”, que ficou melhor evidenciado após a morte de Arnaldo Vieira de Carvalho2 . Tratava-se de médicos que foram inflamados e imbuídos pelos ideais do insigne professor e líder, a fim de se desenvolver a cultura médica em São Paulo. Nesse particular, Olympio Portugal era figura de proa que se destacava pela paixão que emanava de seus atos e palavras. 

Era enérgico ao mesmo tempo em que afável e bondoso, não se abatendo pelas ingratidões que a política predispõe. Cantídio de Moura Campos , na condição de diretor da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, assim se referiu ao destacado rio-clarense: “Nem mesmo a política que não conhece a piedade, com o cortejo terrível das difamantes agressões e com os processos nefandos das suas artimanhas quebrou a elegância natural de suas atitudes, tocado do feitiço que resumam as seduções políticas, não ficou indiferente às contendas partidárias como simples contemplativo à margem tranquila da torrente, impetuosa que vai rolando as suas águas em turbilhão, tragando nos novelos de suas curvas ou projetando no fragor de seus cachões todos os que vão colhendo na cegueira fatal do seu percurso”. 

Olympio Portugal escreveu vários trabalhos médicos e uma Monografia sobre Campos do Jordão, além de colaborar com o jornal O Estado de S. Paulo. Participou de várias campanhas cívicas, sempre com o mesmo entusiasmo de moço, sendo acompanhado por seu filho Oswaldo Portugal , que, igualmente, muito fez pelo progresso da medicina paulista. 

Olympio Portugal embora não se dedicasse à oratória foi um brilhante orador. Com exposição clara e concisa, sua palavra era influenciada por uma profunda cultura do vernáculo que, manejado com raro primor, demonstrava sua maestria intelectual. Assim testemunhou Rubião Meira: “Uma vez, em um banquete que os médicos ofereceram ao professor Aloísio de Castro, revivendo, com facilidade, a figura dominadora de Francisco de Castro, não sabia mais o que admirar, se os conceitos profundos ou a forma limada com que a apresentou. E eu, que nunca fui de seus íntimos, antes mesmo considerado, sem razão, como seu adversário, fiquei impressionado com a revelação daquele robusto talento, que sabia tão bem vestir seus pensamentos”. 

Olympio Portugal foi casado com Rosa Pimentel Portugal com quem teve quatro filhos: Rodolfo Pimentel Portugal, falecido em São Paulo em 1934; Silvio Pimentel Portugal, magistrado; ex-ministro do Tribunal de Justiça de São Paulo; ex-presidente do Tribunal Eleitoral de São Paulo e ex-secretário do Interior e Justiça; Oswaldo Pimentel Portugal, médico e diretor do Instituto de Radium “Dr. Armando Vieira de Carvalho” e do Serviço de Radioterapia do Hospital Humberto Primo; Heitor Pimentel Portugal, engenheiro e diretor da Sociedade Comercial e Construtora Limitada. 

Olympio Portugal foi dotado de grandes qualidades intelectuais e morais. Influenciou seus pares, sendo por eles muito respeitado. Terminou seus dias cercado de admiração pelo seu bom coração e brilhante inteligência. Faleceu na cidade de São Paulo em 29 de maio de 1934, aos 72 anos. Seu nome é honrado com uma rua no bairro da Mooca, na capital paulista.  

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo por dois mandatos anuais não consecutivos entre 1905-1906 e 1911-1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse silogeu. 

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo por dois mandatos anuais não consecutivos entre 1901-1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse silogeu. 

Cantídio de Moura Campos foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo num mandato anual entre 1928-1929, e é o patrono da cadeira nº 128 desse silogeu. 

Oswaldo Portugal também foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo num mandato anual entre 1931-1932.