Raul Vieira de Carvalho
Raul Vieira de Carvalho nasceu em 1892. Era filho de Arnaldo Vieira de Carvalho e de Constança Vieira de Carvalho, cujo nome de solteira era Constança de Melo e Oliveira. Teve quatro irmãos: Carlos, Arnaldo, Alice e Marina.
Arnaldo Vieira de Carvalho, seu pai, foi o fundador da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1912, e um dos próceres da cirurgia paulistana de sua época, além de chefe de serviço na Santa Casa Misericórdia de São Paulo.
Inspirando-se na carreira de seu pai, Raul resolveu segui-lo na profissão. Iniciou o curso médico na Faculdade de Medicina de Genebra, na Suíça, antes da I Guerra Mundial, concluindo-o no Brasil.
Orientou seus pendores e atividades junto de seu pai e mestre, prestando serviços constantes na 1ª Clínica Cirúrgica de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Teve dedicação redobrada com a criação da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Ao lado de José Ayres Netto e de João Egydio de Carvalho tomou parte ativa e intensa no serviço cirúrgico.
Ainda em plena I Guerra Mundial, em 1918, Raul Vieira de Carvalho tomou parte da Missão Médica Brasileira enviada à França, que tinha como meta prestar assistência aos combatentes aliados. Houve uma sessão solene na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo para homenagear os representantes paulistas dessa missão, que contou também com Benedicto Montenegro , Raphael Penteado de Barros, Adolpho Corrêa Dias Filho, Christiano de Souza, Baeta Neves, além dos adidos João Monlevade e Arsênio Galvão Filho. Receberam reconhecida distinção por parte do governo francês.
Dotado de qualidades naturais, Raul Vieira de Carvalho tornou-se um hábil e renomado cirurgião. Publicou numerosos trabalhos científicos em revistas médicas nacionais e do exterior. Permaneceu na 1a Clínica Cirúrgica de Mulheres da Santa Casa até 1934, então sob a direção de José Ayres Netto. Nessa ocasião, devido ao seu valor e dedicação a esse nosocômio, foi convidado pela mesa diretora para dirigir a 1a Clínica Cirúrgica de Homens da Santa Casa, levando apreciável experiência.
O que muito cativou seus novos assistentes foi o fato de não ter trazido nenhum dos médicos para o novo serviço, convidando todos aqueles que lá já se encontravam como seus colaboradores. Ademais, era fidalgo e cortês no trato com seus semelhantes, virtudes que o tornaram muito estimado pelos seus assistentes.
Proporcionou à 1ª Clínica Cirúrgica de Homens da Santa Casa um desenvolvimento apreciável, estimulando atividades científicas e de ensino, que fizeram com que vários de seus assistentes realizassem concursos de docência na Faculdade de Medicina de São Paulo.
Raul Vieira de Carvalho era proprietário do sítio Mandaqui. Contraiu núpcias com Alda Soares Viera de Carvalho e teve três filhos: Arnaldo Vieira de Carvalho, casado com Maria Emília Vieira de Carvalho; Eduardo Vieira de Carvalho, casado com Maria Cecília Pedreira Vieira de Carvalho; e João Vieira de Carvalho, casado com Yolanda Maria Vieira de Carvalho. Paralelamente à sua atuação hospitalar, ingressou, em 2 de maio de 1919, como membro titular da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo. Tornou-se, 21 anos após, o 39º presidente desse sodalício, exercendo seu mandato anual entre 1940-1941, e nele permanecendo por 37 anos!
Raul Vieira de Carvalho foi um dos mais representativos elementos da classe médica de sua época. Manteve a elevada tradição cirúrgica de seu saudoso pai. Serviu à 1a Clínica Cirúrgica de Homens da Santa Casa com constância e zelo, deixando-a somente quando foi acometido por uma insidiosa doença. Embora afastado e não podendo mais trabalhar, visitava-a constantemente e, sentido que não mais podia continuar a missão que lhe fora confiada, teve mais uma atitude de nobreza: solicitou a sua exoneração voluntária do serviço. Foi galardoado pela Santa Casa com o raro título de “cirurgião emérito”.
Em todo o transcurso de sua doença foi portador de grande estoicismo e, durante longo tempo, alimentou esperanças de poder voltar às suas estimadas atividades cirúrgicas. Entretanto, vencido pela doença, faleceu em 27 de maio de 1956, cercado dos cuidados de sua família, amigos e colegas. Seu sepultamente ocorreu no dia seguinte, às 15 horas, no Cemitério da Consolação, quando se fizeram representar a Academia de Medicina de São Paulo, através do seu secretário Fortunato Gabriel Giannoni; o Instituto de Rádio da Santa Casa, através de Dario Carvalho Franco; e a Policlínica de São Paulo, através de Pedro Ayres Netto11. Usaram a palavra José Ayres Netto, em nome da mesa da Irmandade da Santa Casa de São Paulo; Paulo Godoy Moreira, em nome do corpo clínico; Costa, na condição de diretor clínico da Santa Casa; e Sebastião Hermeto Júnior, em nome dos antigos assistentes e médicos da 1ª Clínica Cirúrgica de Homens, serviço do qual foi chefe.
Raul Vieira de Carvalho é honrado com uma rua no bairro do Mandaqui, na zona norte da capital paulista.
Raul Vieira de Carvalho faleceu em 1956, aos 64 anos. É honrado post-mortem numa rua no bairro do Mandaqui, na zona norte da capital paulista.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
A foto inicial e parte dos dados aqui consignados foram gentilmente fornecidas pelo sr. Maurílio José Ribeiro da Secção de Denominação de Logradouros do Arquivo Histórico Municipal da Prefeitura de São Paulo.
Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi membro fundador e presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1901- 1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse silogeu.
Marina Vieira de Carvalho Mesquita casou-se com Júlio de Mesquita Filho, diretor do jornal O Estado de S. Paulo; Alice Vieira de Carvalho Mesquita casou-se com Francisco Mesquita, diretor do jornal O Estado de S. Paulo; Carlos Vieira de Carvalho casou-se com Judith Mesquita Vieira de Carvalho.
José Ayres Netto foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1919-1920 e 1934-1935, e é o patrono da cadeira nº 105 desse silogeu.
Foto extraída do livro “Arnaldo Vieira de Carvalho e a Faculdade de Medicina: Práticas Médicas em São Paulo (1988-1938)” de autoria de André Mota e Maria Gabriela S. M. C. Marinho. CD.G Casa de Soluções e Editora – São Paulo, 2009, 132 páginas.
Foto gentilmente fornecida pelo Museu Histórico “Professor Carlos da Silva Lacaz” da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Foto do jornal O Estado de S. Paulo – edição de 21 de fevereiro de 1912 (quarta-feira), página 3, coluna 7.
Felice Buscaglia foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo.
Benedicto Augusto de Freitas Montenegro foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1952-1953.
Rafael Penteado de Barros é o patrono da cadeira nº 49 da Academia de Medicina de São Paulo.
Pedro Ayres Netto foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1948-1949.