Sebastião de Almeida Prado Sampaio
Sebastião de Almeida Prado Sampaio nasceu em Casa Branca, interior de São Paulo, em 7 de setembro de 1919. Queria estudar engenharia, segundo seus filhos, todavia, acabou escolhendo medicina para agradar sua mãe. Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em 1943, ano em que, a convite do professor Aguiar Pupo, começou a trabalhar como assistente voluntário na clínica dermatológica, efetivando-se como assistente em 1946. Em 1950, foi aprovado em concurso de livre-docência, elaborando tese sobre Lúpus Eritematoso, doença mal conhecida até então, e da qual estudou dezesseis casos, casuística praticamente inédita na época.
Na década de 1950 trouxe a isotretinoína para o tratamento da acne no Brasil, hoje, ainda um dos medicamentos mais usados contra essa doença.
Nos anos de 1951 e 1952 completou sua formação no exterior, na Mayo Foundation for Medical Education and Research, um dos maiores centros médicos dos Estados Unidos da América (EUA). Extremamente dedicado à profissão, empenhou-se nas últimas décadas pela modernização da especialidade. Em 1960, assumiu a cátedra de dermatologia da FMUSP. Após sua aposentadoria, como professor titular, em 8 de setembro de 1989, foi nomeado professor emérito.
Com sua sensibilidade e experiência que incluiu prática no exterior, o professor Sampaio realizou a transição da dermatologia morfológica, tradicional, para a dermatologia moderna, que aplica as ciências básicas no entendimento da fisiopatologia, na diagnose e terapêutica das doenças da pele.
A produção científica do professor Sampaio, tanto nacional como estrangeira é bastante extensa, destacando-se dentre elas algumas notáveis como a introdução e a padronização do tratamento da paracoccidioidomicose com anfotericina B, experimentando, inicialmente a droga com o professor Carlos da Silva Lacaz em sua tese de professorado; também participou com o professor Luiz Carlos Cucé dos primeiros estudos e trabalhos com a utilização dos novos antifúngicos imidazólicos no tratamento de micoses superficiais e profundas.
No campo da clínica o professor Sampaio descreveu na pseudopelada de Brocq, sinal que, entre nós, leva o seu nome – “sinal de Sampaio” – e se traduz pela presença gelatinosa no nível da porção bulbar de cabelos arrancados da região lesada. Sua obra científica reúne duas teses, dois livros; vários artigos e capítulos publicados, além de 12 prêmios conquistados em dermatologia. Ainda, sempre em contato com grandes centros dermatológicos mundiais, introduziu, pioneiramente no país, inovações técnicas importantes, como o laboratório de imunodermatologia; a criocirurgia com nitrogênio líquido e a cirurgia micrográfica de Mohs, indispensável ao tratamento adequado de neoplasias cutâneas.
Ainda na área científica, o professor Sampaio fundou, juntamente com o professor Luís Díaz (EUA) o Grupo Cooperativo para Estudo do Fogo Selvagem, incentivando importantes trabalhos voltados para a descoberta da etiologia dessa enfermidade.
Publicou 125 trabalhos e fez 150 comunicações no Brasil e no exterior. Em 1970 publicou o compêndio Dermatologia Básica – referência para os dermatologistas brasileiros – com a colaboração de Raymundo Martins de Castro e Evandro Rivitti, que em 2008, revisado e ampliado com vários colaboradores, chegou à terceira edição.
Presidiu a Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional de São Paulo em 1971; assumiu, em 1974, a presidência da Sociedade Brasileira de Dermatologia e, em 1988, o Colégio Ibero-Latino Americano de Dermatologia, onde permaneceu até 19922 .
O professor Sampaio fundou a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica em maio de 1988, ficando como presidente até 1990, tendo organizado o 1º Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica, em julho de 1989.
Uma de suas grandes contribuições legada à dermatologia está na coordenação e realização do I Exame para o Título de Especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, isso ocorreu em 1967, na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
Foi mestre de gerações de dermatologistas, pois durante 29 anos formou cerca de 400 deles, entre residentes e estagiários, muitos dos quais vieram a se tornar professores.
Em setembro de 2008, Sampaio a todos emocionou comparecendo no Congresso Brasileiro de Dermatologia, participando ativamente nesse evento científico; ministrando conferência magna sobre sua extraordinária experiência em acne e seu respectivo tratamento.
Porém, no dia 19 de outubro de 2008, num domingo, para surpresa geral dos seus familiares, colegas, alunos e amigos, falecia aos 89 anos o venerável professor Sebastião de Almeida Prado Sampaio, acontecimento esse sobre o qual o então professor titular de dermatologia da FMUSP, professor Evandro Rivitti, seu antigo discípulo, assim se externou: “Sua última lição não foi de dermatologia, mas de vida, mostrando coragem incomum ao enfrentar a doença, a proximidade da morte, enriquecendo ainda mais seu legado aos pósteros”
Eliandre Costa Palermo, em sua monografia sobre Sebastião de Almeida Prado Sampaio – Uma Vida Inteira Dedicada à Medicina – nos fala de sua personalidade forte e marcante, que deixou muitas saudades, lembrando-nos de suas próprias palavras, que somente existem em pessoas realmente predestinadas ao sucesso: “O único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é o dicionário. Portanto, plante o seu jardim, cultive a sua alma sem esperar que alguém lhe traga flores. E saiba que para vencer é preciso lutar, sofrer, suportar e nunca desanimar.”
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Wilson Rubens Andreoni, fundador e titular da cadeira nº 11 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho.
Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Sebastião de Almeida Prado teve também a honra de presidir a Associação Médica Brasileira (1961-1963). Suas principais lutas foram equacionar os problemas da assistência médica previdenciária; melhorar a qualidade do ensino médico e equilibrar a distribuição de médicos pelo País.