Sergio Paulo Rigonatti
Nasci na cidade de São Paulo, na Maternidade de São Paulo, em 21 de janeiro de 1945. Meus avôs paternos eram imigrantes italianos das regiões de Trieste e de Veneza.
A família de minha mãe tem sua origem na cidade paulista de Sorocaba, onde meu tetravô possuía mulas e fazia o transporte de mercadorias pelo sertão. Enfim, era um tropeiro.
Meu pai filiou-se ao espiritismo e, pouco a pouco, tornou-se um líder espírita e tem vários livros publicados. Desde criança, pude observar doentes mentais que eram levados pelas famílias até meu pai para obterem algum consolo.
Casei-me com Solange Truzzi D’Elboux Guimarães e tivemos dois filhos. O mais velho, Paulo Guilherme, é biólogo, e o mais novo, Luiz Felipe, é médico psiquiatra.
Os então denominados curso primário e curso ginasial, eu os fiz no Instituto de Educação Caetano de Campos, na capital de São Paulo. Tenho saudades do Instituto com seus corredores amplos e salas de aula com o pé direito alto, muito aconchegante.
No Caetano de Campos ou simplesmente no “Caetano” como chamávamos, deuse meu primeiro contato com a vocação médica. Contava eu com cinco ou seis anos de idade, no jardim da infância (como na época era chamado o pré-primário), e não podíamos apontar nossos lápis, quando as pontas quebrassem. Havia serventes que nos corredores apontavam os lápis. Um dos meus estava sem a ponta e eu o levei até uma delas. Recordo-me que era uma avantajada negra, com avental branco e olhar maternal.
Fixou seus olhos em mim e perguntou-me: “O que você quer ser na vida?”. Ao que eu respondi quase automaticamente: “Médico”. Ela pegou meu lápis, começou a apontá-lo e disse-me: “A sua assinatura será Dr. Sérgio Paulo Rigonatti, lembre-se disso”.
O curso “científico” eu o fiz no Colégio Bandeirantes, onde conheci professores cuja didática ainda hoje me assombram. Dentre eles posso citar: professor Albanese…
Rosemberg… Silvio…, entre outros. Após um ano de “cursinho” (curso preparatório para os vestibulares) entrei na Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde passei os mais agradáveis anos de minha vida de estudante.
Na EPM convivi com professores extremamente dedicados ao ensino. Seria injustiça esquecê-los, mas não posso nomeá-los, pois não me recordo dos nomes dos auxiliares de ensino que, diuturnamente, ao pé dos leitos, ensinavam-me propedêutica.
Devo, porém, citar o professor Domingos Delascio, que me recebeu em sua casa e passou horas comigo, em sua biblioteca, ensinando-me didática e como um professor universitário deve dedicar-se a seus alunos.
Ao me formar fiz estágio em nível de residência na disciplina de psiquiatria da FMUSP, onde assisti aula magistrais e práticas de inestimável valor para a minha formação. Conheci o professor Pacheco e Silva
, então professor emérito, o qual me incentivou ao notar minha curiosidade para com os “tratamentos biológicos” e aconselhou-me a prosseguir e a “não deixar a eletroconvulsoterapia (ECT) ser abandonada”. Ao prestar exame para assistente do agora Instituto de Psiquiatria (IPQ), ao ser aprovado, também fui estimulado a continuar estudando os “tratamentos biológicos” pelo professor Albuquerque Fortes. Conheci os atuais professores titulares como residentes e posso afirmar que guardo boas recordações deles, nessa época, de seus estudos iniciais de psiquiatria. Devo, a bem da verdade, agradecer ao professor Valentim Gentil, que não só me apoiou como permitiu na reforma e reestruturação do “Prédio da Psiquiatria” que a eletroconvulsoterapia fosse contemplada com uma boa estrutura, que permite assistência, ensino e pesquisa.
Não posso deixar de citar, até com emoção, a figura do dr. Isac Guz que me ensinou, na prática, a atender pacientes em sua clínica particular.
No Instituto de Psiquiatria fui incentivado a defender o mestrado e o doutorado, os quais procurei realizar de modo honesto, dando o melhor de mim.
Foram meus orientadores os professores Renato Meira, Cláudio Cohen e Antonio Vieira Guerra; e eu tenho muito respeito e gratidão pelo que me ensinaram.
Assisti a consolidação da pesquisa na área psiquiátrica, consolidação essa que muito deve ao professor Valentim e ao professor Gattaz.
A psiquiatria forense sempre me atraiu sendo que meu mestrado foi realizado no Instituto de Criminologia Oscar Freire da FMUSP, primeiramente sobre a orientação do professor Renato Meira e depois do dr. Claudio Cohen. O doutorado realizei no IPQ, também sobre a temática forense, sob a orientação do professor Antonio Vieira Guerra.
O núcleo forense do IPQ foi fundado por mim e por colegas como Waldir Pricolli e Antonio Cabral que, hoje, está sob a direção de colegas que estudaram e defenderam teses no âmbito da psiquiatria forense.
Atualmente, dedico-me aos tratamentos biológicos (ECT) e à psiquiatria forense.
O meu interesse pelos estudos forenses levou-me a estudar criminologia e, com o evoluir de minhas pesquisas na área, prestei concurso para professor na Academia de Polícia do Estado de São Paulo. Fui aprovado e admitido como professor de criminologia. Assumi o cargo de membro do Conselho Penitenciário do Estado de São Paulo, onde exerci o cargo de presidente.
Organizei, juntamente com o dr. Duílio Camargo, o Grupo de Estudos denominado “Psiquiatria e Trabalho”, destinado a estudar as doenças psíquicas relacionadas ao exercício das profissões.
Uma das minhas honrosas atribuições atuais é a de pertencer à diretoria da Academia de Medicina de São Paulo.
NOTAS:
Biografia e foto foram fornecidas pelo autor.
Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Domingos Delascio é o patrono da cadeira nº 57 da Academia de Medicina de São Paulo.
FMUSP: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Antônio Carlos Pacheco e Silva foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1933-1934, e é o patrono da cadeira nº 127 desse sodalício.
Valentim Gentil filho é membro titular e primeiro ocupante da cadeira nº 15 da Academia de Medicina de São Paulo, cujo patrono é Mário Yahn.
Affonso Renato Meira é membro titular e emérito da cadeira nº 5 da Academia de Medicina de Medicina de São Paulo, cujo patrono é Alfonso Spendore. Presidiu esse sodalício num mandato bienal entre 2011-2012.
Cláudio Cohen presidiu a Academia de Medicina de Medicina de São Paulo num mandato bienal entre 1995-1996, e é membro honorário desse sodalício.
Sergio Paulo Rigonatti ingressou, em 8 de maio de 1989, como membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, tornando-se o primeiro ocupante da cadeira nº 13, cujo patrono é Mathias de Vilhena Valladão.