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Pesquisa na graduação, por Acad. Affonso Renato Meira

20.07.2012 | Tertúlias

Novos tempos e com eles no ensino de graduação existe uma tendência atual de dar uma importância acentuada a pesquisa. Pelo menos é o que transparece de todo programa novo proposto para revolucionar o ensino. Dos meus mais de cinquenta anos de vivência no ensino superior, todavia, algumas dúvidas vêm à mente.
Será muito importante ensinar como prioridade pesquisar com prejuízo do ensino prático? Um advogado será mais valioso se for capas de discursar com convicção frente a um júri dividido ou de traduzir as origens do Código Penal, baseadas nas suas origens da lei romana? Um farmacêutico solicitado a providenciar uma receita será mais importante se souber prepará-la com correção ou pesquisar a origem da beladona ou do acônito?
Um engenheiro é mais importante se souber calcular para um edifício não desabar ou pesquisar sobre as bases das ideias dos prédios inteligentes? Finalmente na área em que vivo por sessenta anos, na área da saúde, o que a população precisa é de um médico que oriente para a solução da dor ou dos sintomas provenientes de um mal estar ou que esteja a procurar os efeitos duvidosos de uma droga?
Eu sou formado em época em que não havia sequer internato, para não lembrar que, também, não havia residência médica. Terminada minha graduação, sai para a rua como todos meus colegas, montei consultório e passei a atender a todos os casos que se apresentavam. Além de atender no consultório dava plantão em hospitais, e em laboratório, associado a outros médicos, procedia a exames. Tempos em que os problemas hepáticos eram diagnosticados pela aparência do paciente e pelo exame do Timol, cuja leitura se fazia em cruzes, balanceando quatro tubos e verificando como se encontrava a turvação do sangue do paciente. A hepatite exigia repouso total, e a ulcera gástrica era cuidada por repouso e dieta na orientação da clínica médica ou por cirurgia na orientação da clínica cirúrgica. A glicemia, cujo normal era considerado com valores até 120 mg/dl, era calculada pela comparação na leitura de tubos, um padronizado e outro com soro do paciente.
Outros tempos nos valores considerados normais e nos métodos de encontrá-los e com a complementação deles fazer o diagnóstico e proceder ao tratamento.
Outros tempos em que o médico examinava o cliente como um todo, um ser humano, não somente as áreas da especialidade. Outros tempos nos quais o médico ouvia do cliente todos os fatos relativos à consulta, pesava, media a estatura como media a pressão arterial, tomava a temperatura axial, contava os batimentos cardíacos no pulso, examinava a garganta e verificava a tonalidade das mucosas repuxando a pele abaixo dos olhos, auscultava o pulmão pedindo para dizer trinta e três e distinguia um sopro do
batimento de um coração normal e fazia uma apalpação do tórax e do abdomem. Tinha menos armas, mas, era mais rápido no diagnóstico, até naqueles em que ele se via obrigado por falta de recursos a encaminhar o paciente a um centro médico mais qualificado.
Tempos modernos, a medicina muito mais evoluída devido ao conhecimento que a pesquisa realizada e o instrumental tecnológico oferecem. Porém o médico com novos procedimentos ainda é necessário para o povo. Antes aprender e estudar e depois pesquisar e ensinar, não antes de conhecer o trabalho médico no meio da comunidade.
Devo confessar que também pesquisei. Diversos trabalhos divulgados em Congressos Internacionais fora do Brasil e em revistas estrangeiras de renome me garante a qualidade do que publiquei em razão dos que leram e comentaram meus escritos. Fui para a pesquisa depois de ter percorrido a clínica.
Por isso que cuido do perigo de focalizar a pesquisa com prejuízo da pratica. A pesquisa é mais atraente, muita vezes é subvencionada por fundos de pesquisa, é menos desgastante e oferece uma recompensa em todos os sentidos mais vantajosa. Apresentar o resultado de uma pesquisa muitas vezes está acompanhado da ida para terras longínquas. Porém a pesquisa é para alguns, talvez mais bem dotados do ponto de vista intelectual, não é para todos.
O lugar da pesquisa é a pós-graduação para aqueles que a ela queiram se dedicar, pois, já graduados estão. A graduação é perseguida por todos que desejam um diploma para exercer uma profissão para atender a comunidade. A população da mais baixa escala social não esta preocupada e sequer necessitada de saber que um cientista esteja fazendo profundos e elaborados estudos para verificar se no DNA há a substituição do fósforo por arsênio, na realidade a população quer um médico para verificar sua dor de cabeça ou de barriga e que se possível ofereça os medicamentos sejam amostras grátis ou não. Esse é o papel que a sociedade espera que o médico cumpra. No papel do médico os tempos são iguais.